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Cap 01 - At the Edge

[OP - Simple and Clean]

Após dois dias de viagem, o sol brilhava alto em Flotsam. Assim que as duas puseram o pé em terra, Rhoda seguiu a Selina. Ela conhecia bem o trilho que caminhava, Rhoda observava a paisagem à sua volta, sem dúvida que a cor verde era a cor predominante neste apreciável cenário. Ouvi-o o chilrear dos pássaros atentamente. Qual teria sido a última vez que tinha ouvido tal som? Não se recorda.  

- Chegamos. - Olhando para Rhoda com pequeno sorriso.

A casa que apresentava-se há frente das duas há muito tinha perdido as cores, onde a relva selvagem agora tomava conta do perímetro do jardim. Rhoda reparou que Selina olhava para a casa com alguma nostalgia.

- Eu nasci nesta casa. - Tocando com cuidado na porta de madeira agora poeirenta. - Foram os melhores tempos que tive, até a vida mostrar-me a verdadeira realidade das coisas. - Abaixando o olhar para a maçaneta.

A jovem girou a maçaneta dando um clique e abriu a porta. Mesmo após estes anos todos as coisas continuavam no mesmo lugar quando teve de mudar.

- Sendo filha de uma elfa e de um humano, após a morte do meu pai, eu e a minha mãe não tivemos uma vida fácil. - Ficando de costas para Rhoda. - As pessoas podem ser muito cruéis por temerem aquilo que desconhecem ou simplesmente por seres diferente. - Fazendo uma breve pausa. - Mas sabes uma coisa. - Voltando para Rhoda com largo sorriso. - Não devemo-nos sentir inferiores por causa disso, mas sim especiais.   

Rhoda dá um pequeno sorriso porque vê algo em comum em que ela e Selina tiveram experiência.

- Bem, temos muito trabalho pela frente.

- Quando queres começar?

- Pode ser agora mesmo.

As duas pegaram em várias ferramentas de limpezas, onde os dias passaram a semanas até a restauração da casa ficar completa.

Cada noite que passavam juntas, as duas partilhavam pequenos episódios dos seus passados, aproximando-as mais. 

Durante o dia Selina visitava as redondezas e falava com as pessoas que precisavam de alguma atenção médica, enquanto Rhoda ia ver se existia trabalho para matar monstros. Uma noite quando a Selina acabava de preparar o jantar e de pôr a mesa, virou-se para Rhoda. 

- Posso fazer-te uma pergunta? - Um pouco insegura.

- Força.

- Eu li que os souleaters tem uma longevidade muito grande… e… - Fazendo uma pequena pausa a pensar. - Quantos anos tens, mesmo?

- Hum… Não me lembro bem… mas devo ter mais do que 150 anos.

- Isso é incrível. - Sentando-se à mesa com um certo brilho nos olhos. - Deves ter conhecido e falado com muita gente não?

- Nem por isso. Deves ser a primeira pessoa que interajo passado estes anos todos. 

- Mas porquê?

Selina notou que o rosto de Rhoda tomou uma expressão mais séria e não prosseguiu com a conversa. O silêncio entre as duas enquanto jantavam era pesado. Rhoda quando acabou de comer foi até à janela olhando o vazio da noite enquanto Selina lavava a loiça em silêncio.

- Eu preferi isolar-me da sociedade. - Quebrando o silêncio. - Todas as experiências que tive nunca foram boas.

- Sabes que nem todas as pessoas são iguais há maior parte. 

- Eu não acredito nisso. - Voltando-se. - Tu foste uma excepção.

- Eu posso provar-te que estás errada. Vem comigo amanhã e verás.

- Hum…. - A ponderar a sugestão de Selina. - Ok, porque não, afinal tenho todo o tempo do mundo. 

Na manhã seguinte Selina fez a sua ronda nos arredores de Flotsam acompanhada por Rhoda, que a primeira coisa que notou foi todas pessoas aproximavam delas cumprimentando-as, o que deixou Rhoda um pouco desconfortável. Uma jovem rapariga aproxima-se de Selina a pedir que fosse ver a mãe dela. As duas foram guiadas pela jovem, onde Rhoda ficou cá fora à espera dela. No tempo de espera ouviu um choro de um bebé ao colo da mãe, em que observou o rosto da mãe a desesperar por não conseguir acalmá-lo.

Rhoda aproximou-se da mãe e pediu se podia tentar acalmá-lo. Pegou nele com bastante cuidado, tocando no peito dele levemente acalmando-o. A mãe nada disse apenas olhou surpreendida. Os olhares entre Rhoda e a criança, fez com que ela revelasse um leve sorriso no rosto dela. 

Selina observava a cena com alguma ternura e a mãe da criança agradeceu a Rhoda que seguiu atentamente a mãe até perder de vista.

As duas regressaram a casa onde a Selina viu alguma nostalgia em Rhoda.

- Tens jeito com crianças.

- É normal. - Suspirando. - Eu já fui mãe…- Ficando alguns segundos em silêncio. - O que resta desse tempo são apenas as memórias, nada mais. - Olhando pela janela.

- Sim, é verdade. Só as memórias é que ficam.

Rhoda leva a mão ao peito, não por estar a doer mas sim porque, começou a sentir uma fome incontrolável. Selina começou aproximar-se de Rhoda mas esta pede para não aproximar-se, os olhos dela começam a tomar uma tonalidade verde brilhante.

- O que se passa? - Preocupada.

- A fome!!! - Tentando controlar-se. - Deve ser dos vários dias que não comi almas humanas. - Ajoelhando-se. - Eu não quero magoar-te Selina. Por favor, não fiques aqui comigo.

- Não irei abandonar-te. - Determinada em ajudar.

Selina agacha-se até Rhoda que com as duas mãos toca-lhe no rosto. Pede-lhe para inspirar e expirar com calma e que feche os olhos.

- Pensa na tua memória mais preciosa que tens e faz com que a força dessa memória feche a porta onde a fome quer sair. Lembra-te que és tu quem manda e não a fome.

As palavras de Selina interiorizaram-se na mente de Rhoda que gradualmente sentiu a fome a diminuir. Quando abriu os olhos viu o sorriso de Selina.

- O que fizeste foi muito arriscado. Eu podia ter-te matado.

- Sim eu sei, não aconteceu nada. 

- Qualquer das formas, obrigada.

- Não tens de quê, afinal somos amigas, verdade? Sempre que precisares de mim eu estarei aqui para ti. Mas acho que se fizeres um pouco de meditação sempre que sintas a fome vir, penso que irá ajudar-te.

As duas sem darem conta os meses passaram a anos onde tornaram-se cada vez mais inseparáveis. Na altura em que o inverno era mais rigoroso, Selina ficava a ler um livro ao pé da fogueira enquanto Rhoda observava pela janela o grande manto branco e apreciava o silêncio que trazia.

Sempre que dava para ir lá fora, Selina continuava a ajudar quem precisava enquanto Rhoda sempre que tinha tempo treinava arduamente, para não deixar de ficar em forma ou ponha em prática aquilo que Selina ensinava sobre medicina. Havia rumores que a Scoia'tael dominava a floresta de Flotsam, mas ainda ninguém tinha visto nada.

Num dia em que as duas vinham a caminho para casa, viram um fio de fumo no céu, apressaram-se até ao local, mas Rhoda deteve Selina onde observa e avalia a situação. No local encontravam-se um grupo de homens em que um deles Selina parecia conhecer. Rhoda diz a ela para avançar com cuidado em que estaria atenta para ajudá-la se precisasse. Selina avança com calma até ao homem que conhece.

- Afinal o que se passa aqui? Qual é o teu propósito aqui padrasto?

Ele juntamente com o grupo de seis homens voltaram-se para Selina, surpreendidos com a presença dela.

- A onde está o demonio que matou o teu irmão? - Num tom zangado.

- Do que estás a falar? Qual demonio? - Fazendo-se de ingênua para proteger Rhoda. - Aliás por acaso sabes o que o teu adorado filho queria fazer? Ele queria abusar de mim.

- Se o ia fazer é porque estavas a pedi-las. Tens a quem sair. - Rindo-se.

- Se achas isso. - Fechando o punho de raiva. - Foi bem feito ele ter morrido.

Selina sentiu uma forte dor na bochecha esquerda, que a fez cair no chão olhando para o padrasto com algum medo.

- Herdaste aquilo que a tua mãe tinha de mau nela, a ousadia e a estupidez.

O jovem do grupo mencionou que o demonio era capaz de ter possuído o corpo dela, já que altura Selina tinha interagido com o demonio.

Aos ouvidos do padrasto esta oportunidade é a desculpa perfeita para acabar aquilo que não conseguiu acabar no passado, matar a Selina. Aproximou-se dela tirando uma navalha do bolso com um olhar malicioso, a cada passo que dava a jovem ficava cada vez mais aterrorizada, mas nesse momento Rhoda avançou rapidamente já com a espada na mão matando dois homens do grupo num piscar de olhos.

O padrasto de Selina olhou surpreendido mas não deixou-se intimidar por Rhoda e mandou avançar os restantes homens do grupo, enquanto voltava ao que estava a fazer. Rhoda esquiva-se com muita facilidade do grupo matando um a um, mas por serem muitos demorava alcançar até Selina. Um grito vindo dela ecoou na mente de Rhoda que foi o rastilho para ela libertar o seu lado negro. Em segundos o restante grupo de homens foi reduzido a cinzas num piscar de olhos o que chamou a atenção do padrasto, o olhar malicioso que dantes tinha passou agora a ser de medo e terror.

Rhoda observa Selina e vê sangue nas roupas dela. Num acto de desespero o padrasto golpea na coxa direita, mas isso não faz com que ela ceda e sem hesitar reduz ele a cinzas. Aproxima-se de Selina na sua forma normal e vê a gravidade da ferida dela. Ao longe ouve vozes de pessoas aproximarem-se, ela sabia que podia matá-los a todos mas o tempo estava contra elas.

Rhoda fez um curativo rápido e pôs Selina às costas dela correndo o mais rápido para fora da zona, sabia que entrar na floresta era arriscado, mas era a melhor hipótese que tinham para fugir. Sem saber muito bem por onde ia, foi em direção onde ouvia um suposto riacho mas foi interceptada por uma flecha da Scoia'tael. Olhou em volta atenta e numa fracção de segundo esquivou-se de duas flechas que a fez tombar para o chão com Selina que gemeu quase inconsciente. Rhoda tomou uma posição defensiva há espera.

Nesse instante um elfo aparece acompanhado com outros elfos que apontavam flechas a elas.

- Qual é o teu assunto na minha floresta, dh'oine?

Rhoda permaneceu em silêncio durante algum tempo a pensar no que iria responder ao elfo.

- Por favor, salva a vida dela. - Num tom suplicante. - Em troca eu trabalho para ti.

O elfo observou Rhoda de cima abaixo intrigado com a proposta dela.       

- E por que devia aceitar a tua proposta, dh'oine? - Com tom sério, onde Rhoda permaneceu novamente em silêncio a pensar novamente no que iria responder. 

Num breve sinal com a cabeça dois jovens elfos que estavam escondidos entre os arbustos saem para atacar. O elfo ficou atento a observar. Rhoda avança até eles para afastá-los de Selina, bloqueando os ataques deles e contra atacando deixando-os inconscientes apenas. Foi nessa altura que apercebeu-se da grande mancha de sangue que tinha na coxa e sentiu as primeiras dores que vinham a passos largos. O corpo de Rhoda obrigou-a a pôr-se de joelhos no chão sem ela querer.

[ED - Sanctuary]

O elfo mais uma vez fez sinal com a cabeça e apareceram mais três jovens elfos, Rhoda num esforço levanta-se contra a vontade do corpo dela, mantendo uma posição defensiva começando a ficar com a visão turva e arfar com mais frequência sem perder a determinação no olhar. Mas o corpo dela cede onde fica imóvel no chão, a última coisa que vê antes de perder a consciência foi os jovens elfos a levarem Selina com eles.